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Foto do escritorCamila Zanardini

26 de Outubro o hospital dos ferroviários

A Antiga Associação Beneficente 26 de Outubro foi reconhecida no século XX, pela excelência do atendimento hospitalar em todo território do Paraná.

Foto do arquivo da Casa da Memória

Imagine um plano de saúde para uma classe específica do proletariado, assim era o hospital que pertencia a uma associação de cem ferroviários que almejavam construir uma associação onde as necessidades básicas deles fossem atendidas. E foi em 26 de Outubro de 1906 que nasceu a Associação de Socorro Pessoal da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande.


Os ferroviários fundadores pertenciam à Companhia de Estrada de Ferro São Paulo- Rio Grande. Mais tarde o nome da Associação mudou e foi renomeada como Associação Beneficente 26 de Outubro e conhecida popularmente como Hospital 26 de Outubro.


A Rede (RFFSA) foi uma empresa estatal brasileira de transporte ferroviário, ela cobria boa parte do território brasileiro, inclusive as ferrovias de São Paulo à Rio Grande do Sul, que passavam por Ponta Grossa. E com a chegada da ferrovia contribuiu-se em muito para a urbanização de Ponta Grossa.

O Hospital 26 representava um socorro e alento aos ferroviários. Além de atendimento à saúde ele era verdadeiro socorro assistencial e funerário destinados especificamente para a classe. O prédio foi construído em 26 de Outubro de 1906 e inaugurado em 25 de janeiro de 1931. Enquanto era construído o prédio, os atendimentos eram feitos juntamente à Cooperativa Mister 26 de Outubro.


Para o radialista Fernando Ribeiro ser ferroviário concursado pela Rede era garantir estabilidade financeira para a família. "O trabalhador podia viajar tranquilo porque se alguém da família ficasse doente ou se precisasse de remédios era só procurar o Hospital 26. E se necessitasse de alimento ou roupa era só chegar na Cooperativa Mister, que ficava pertinho do Hospital", relata Fernando, que foi ferroviário por 12 anos.

Início da Construção do Hospital 26 de Outubro. Foto do arquivo pessoal de Márcio Passolim

O Hospital foi chamado de Associação Beneficente 26 de Outubro, justamente por compor uma assistência para além da saúde. Eram aceitos como associados apenas os ferroviários da RFFSA e familiares. Segundo o aposentado e ferroviário  Martinho Stremel mensalmente era pago uma taxa para o uso do benefício e quando o associado não tinha no mês condição de contribuir financeiramente ele podia combinava com a direção do Hospital pagar com serviços de mão de obra.

Sempre tinha algo que precisava fazer, ou uma reforma, uma pintura, cortar uma grama e era assim que alguns associados mantinham sua mensalidade em dia

comenta Stremel membro da ASFER (Associação dos Ferroviários Aposentados).


Há ainda quem diga, que um dia do trabalho dos trabalhadores ferroviários eles destinavam para pagar a sua mensalidade dentro da Cooperativa Mister 26. Segundo a neta de ex-ferroviário, Eliane Freitas, esse valor englobava não apenas a associação com o Antigo Hospital 26 de Outubro, mas também com o armazém da Cooperativa e o Clube de Futebol Operário. (Ouça o áudio)


Mesmo que os filhos do ferroviário casassem, era possível associar continuar a usufruir do atendimento do Hospital. Assim foi o caso de Solange Barbosa Lemes, filha do ferroviário João Barbosa, casou e continuou como associada, mas agora o titular era seu esposo Miguel Lemes e ela inclusa na do plano. Passado alguns anos, Solange engravidou e ganhou sua filha Gabriele Ap. Lemes em 1986 no Hospital.


Segundo ela a maternidade era uma ala nova. "Minha filha precisou ficar onze dias na incubadora e necessitou de cilindros de oxigênio e visitas diárias do pediatra, pois corria risco de vida. Esses dias foram pagos à parte, mas o Hospital era muito bom, as enfermeiras muito atenciosas e os médicos dedicados" expõe Solange, que recorda do hospital como um local de excelente atendimento.


Quando se fala em memórias do Hospital 26 de Outubro não faltam histórias, mas nem todas são boas. As recordações da ex-enfermeira do Hospital 26 de Outubro, são de solidão e sofrimento. Vanda Urba com apenas 15 anos saiu da casa dos pais em Guamirim- PR, para trabalhar no Hospital 26 de Outubro. Quem conseguiu o emprego para Vanda foi sua irmã mais velha, que conhecia a direção da enfermaria que era cuidada pelas Irmãs São José.


Foto: Camila Zanardini

Vanda aceitou o emprego porque queria realizar o desejo de arrumar os dentes, já que os pais eram de origem muito humilde e não tinham condições de realizar o sonho da filha. Ela morou por 6 anos no Hospital junto com outras moças e freiras num alojamento, que ficava ao lado do Hospital, mas o que era para ser o ponta pé para uma nova vida foi o início de uma fase de sofrimento. 


Vanda Urba e seu arquivo pessoal. Foto: Camila Zanardini.


E o mal tratamento aos funcionários não acontecia apenas na hierarquia do hospital, mas também por parte de alguns associados. Em contra partida, os pacientes que por ela eram atendidos, sabiam reconhecer o empenho de Vanda e o bom trabalho que ela realizava.


Corredor do Hospital. Foto: Arquivo de Olmiro Biachini.


Vanda e as meninas, que moravam junto no alojamento, não tinham proteção das leis trabalhistas, além de excederem a carga horária de trabalho, também tinham dias, que se faziam algo de errado ou que não agradava as suas coordenadoras, lhes era retirada aquela diária. E por vezes os médicos viam aquela situação e indiretamente amenizavam o dano financeiro.

Vanda é a segunda enfermeira da foto. Foto: Arquivo pessoal de Vanda Urba.


O Associação Beneficente 26 de Outubro possuía atendimento amplo e era reconhecida como uma das melhores casas de Saúde do Paraná. Segundo o texto de Elizabeth Johancen no Livro Visões de Ponta Grossa, a Casa oferecia atendimento clínico de pediatria, ginecologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, radiologia, obstetrícia, urologia, odontologia, atendimento psiquiátrico. Além de um pavilhão de alvenaria ao lado do Hospital onde atendiam pacientes com moléstias da época.


Segundo a professora de Turismo e pesquisadora de patrimônio Márcia Dropa o hospital era referência em atendimento de ponta para o século XIX com parteiras, centros cirúrgicos e farmácia hospitalar.


"O hospital tinha medicamentos de primeira linha para os associados, era referência nos Campos Gerais e Paraná. Tanto que o hospital ganhou ramificações com postos de saúde em várias cidades que a ferrovia passava", conta professora Márcia.

Nisiane Madallosso é professora e arquiteta e em seu artigo de Trabalho de Conclusão de Curso estudou os elementos arquitetônicos pertencente ao Complexo Ferroviário do Parque Ambiental e entre eles está o Hospital 26 de Outubro. Segundo ela a arquitetura do hospital ostentava e refletia o poder da RFFSA na cidade. " A sua arquitetura é europeia e para a época construir um edifício assim era uma forma de afirmar e Foto: Aquivo pessoal de Nisiane Madalloso

o poder que se tinha aquisitivo." alega

Nisiane, professora e presidente da APPAC.


O 'Hospital 26' fechou as portas em 1989, momento em que a RFFSA foi privatizada e vendida para a empresa América Latina Logística e assim se encerraram tanto o atendimento no Hospital 26 de Outubro como da Cooperativa Mister. Em 1991 o prédio foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Em 2002 o prédio foi tombado como patrimônio municipal e em 2005 como patrimônio Estadual.


E atualmente abriga o setor de assistência social do município, que você pode conferir nesta plataforma conhecendo através da matéria das ocupações atuais do prédio Antigo Hospital 26 de Outubro.



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